quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Mudança?

Nos últimos tempos dou por mim a pensar se não seria interessante mudar um pouco o atual registo literário do meu blog e passar a escrever algo da minha autoria, além das habituais citações dos excelentes, e meus preferidos, autores e poetas portugueses. Não sou filósofa, nem cronista, muito menos uma grande intelectual do mundo das letras. Os meus textos são apenas fruto da realidade com que todos nos deparamos e sobre a qual raramente refletimos. De facto quantos de nós se depara com os fenómenos mais contraditórios, irónicos e incompreensíveis e nem se apercebe? Eu própria seria insensível se a minha formação profissional não me tivesse afinado para estas questões.
Passemos à prática. É de senso comum que a maioria dos acidentes rodoviários é provocada pelo excesso do consumo de álcool, que muitos dos casos de violência doméstica são o resultado de dependências, nomeadamente do álcool e que este mesmo álcool, protagonista de muitas refeições, é o grande responsável por destruições sociais, familiares e individuais.
O excesso de consumo de etanol, como é designado no mundo científico, é um grave problema presente em muitos países dentro dos quais Portugal. Mesmo que as suas consequências não atinjam níveis tão drásticos como violência ou mortes, não significa que eles não existam e não deixem as suas marcas. Então, fará sentido as marcas de bebidas alcoólicas continuem a ser uma das maiores empresas patrocinadoras de clubes, eventos ou atividades desportivas? Isto é contraditório em vários aspetos. Ponto número um, os atletas supostamente nem podem ingerir álcool. Ponto número dois, se a publicidade televisiva a bebidas alcoólicas não passa a qualquer hora, de forma a evitar a exposição de menores ao marketing deste tipo de produtos, porque motivo ninguém se preocupa que estes patrocinem eventos desportivos quando a sua assistência inclui uma grande percentagem de crianças e adolescentes? Pela mesma ordem de ideias farão sentido os anúncios publicitários explícitos a estes produtos nos outdoors ou outros meios impressos? Terão as letras minúsculas “Beba com moderação” um efeito real, ou serão como as bulas dos medicamentos? As recomendações são de dois copos de vinho por dia para homens (ou seja 250ml) e um para mulheres, quem cumpre? Fará sentido que entidades como a Federação Portuguesa de Futebol, que tem um forte impacto na sociedade, em especial nos mais novos, continuem a usar nos seus equipamentos o logótipo destas marcas. Porque não começarem a pensar noutros patrocínios, por exemplo água, fundamental à vida, ou mesmo noutras marcas de géneros alimentícios. Será que as atuais marcas irão mesmo à falência caso deixem de patrocinar estes eventos? Se sim, como sobrevivem então os outros operadores económicos atualmente?

domingo, 23 de novembro de 2014

Brotar...


A Flor do Sonho, alvíssima, divina,
Miraculosamente abriu em mim,
Como se uma magnólia de cetim
Fosse florir num muro todo em ruína.

Pende em meu seio a haste branda e fina
E não posso entender como é que, enfim,
Essa tão rara flor abriu assim! ...
Milagre ... fantasia ... ou, talvez, sina ...

Ó Flor que em mim nasceste sem abrolhos,
Que tem que sejam tristes os meus olhos
Se eles são tristes pelo amor de ti?! ...

Desde que em mim nasceste em noite calma,
Voou ao longe a asa da minha’alma
E nunca, nunca mais eu me entendi ...”

Florbela Espanca

(Foto Artymind/ Zazzle)

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Um desespero...

"Ah! A angústia, a raiva vil, o desespero
De não poder confessar
Num tom de grito, num último grito austero
Meu coração a sangrar!

Falo, e as palavras que digo são um som
Sofro, e sou eu.
Ah! Arrancar à música o segredo do tom
Do grito seu!

Ah! Fúria de a dor nem ter sorte em gritar,
De o grito não ter
Alcance maior que o silêncio, que volta, do ar
Na noite sem ser!"

Fernando Pessoa